Entre a performance e a rendição: com galerias praticamente vazias, Alep aprova desmonte da carreira docente
Vão nos acusar, mais uma vez, de criticar mais a diretoria do sindicato do que o próprio governo. Mas a verdade é simples: nós nunca esperamos nada de Ratinho Júnior. Já sabíamos que ele seguiria com a política de destruição da escola pública, da carreira docente e da saúde dos trabalhadores da educação. Ele foi eleito para governar em favor dos de cima, do empresariado, do latifúndio e da imprensa burguesa.
Agora, da diretoria do maior sindicato do Paraná, o mínimo que se espera é que esteja à altura da categoria que representa e dirija, de fato, os trabalhadores e trabalhadoras da educação – tarefa hoje muito bem desempenhada pelo governo e seus capitães do mato, blindados inclusive pela própria entidade.
O mínimo a ser feito era ter deliberado por greve na última assembleia, como defendeu o M29. No entanto, nem mesmo a explosão de casos de adoecimento, das mortes dentro das escolas, da plataformização brutal do trabalho, da falência da perícia médica, da militarização e privatização da gestão escolar, fez essa diretoria se mover. O mínimo era organizar a luta.
Fotos, palanques e plateia vazia: o teatro sindical da conciliação
Ao contrário. Insistem na tática do sindicalismo de negociação cuja única efetividade são as fotos com parlamentares ou os atos esvaziados chamados às pressas, da noite para o dia, ou em sábados à tarde. Sem protagonismo da categoria que amarga cada vez mais derrotas em razão do imobilismo e da submissão aos interesses eleitoreiros do grupo que hoje administra a APP, o que importa é a foto e não o resultado efetivo da ação. Deles, esperava-se ao menos que não entregassem a corda com a qual estão nos enforcando.
Um dia após tecer duras críticas ao projeto de reajuste de Ratinho Jr., proclamando que ele “destrói a carreira do magistério”, a gestão administrativa da APP-Sindicato, assim que a proposta foi aprovada, mudou o discurso a ponto de afirmar que a Alep retirou “artigos que previam destruição imediata da carreira”. Dessa vez, como tantas outras derrotas, parece lhes ter faltado coragem em considerar tal sacrilégio como uma conquista.
Escada cenográfica e a mão que desliga o oxigênio
No dia 17 de junho, a Assembleia Legislativa aprovou o substitutivo ao PLC 06/2025. O reajuste de R$ 250 (20h) ou R$ 500 (40h) foi vendido, ainda assim, como conquista. A direção da APP saiu em festa, posando para fotos e comemorando a “retirada dos artigos que destruíam a carreira”. Mas quem lê o texto aprovado entende: não se trata de vitória. É derrota com maquiagem sindical.
O novo artigo 2º da lei é claro:
“Considerar-se-á que a tabela permanece vigente caso seus valores sejam revistos por aplicação de percentual único a todos os níveis e classes da carreira, indistintamente.”
Nossa tabela da Lei complementar 103 tinha uma estrutura (já distorcida com o achatamento de 2021). A nossa tabela original está suspensa “ad eternum“ (não se aplica os parágrafos 2 e 5 do artigo 6° da Lei 103). A estrutura de classes e níveis está “sem efeito”! Onde está a vitória?
Traduzindo: a carreira será mantida, desde que seja achatada. Você ainda tem uma escada, desde que todos os degraus tenham a mesma altura. Formação, tempo de serviço, dedicação? Agora valem tanto quanto nada.
A estrutura construída com décadas de luta virou uma maquete cenográfica. Está lá, de pé, mas sem função: o plano de carreira virou fachada de concreto armado para encobrir o desmonte real.
E o que isso significa na prática? Que milhares de professores(as) já receberão aumentos ridículos de R$ 16 ou R$ 30, pois já têm complementação judicial. Que aposentados sem paridade (aqueles mais de 11 mil que se aposentaram depois da reforma da previdência de Lula – 2003) foram abandonados à própria sorte. Que as distorções entre níveis e classes vão se agravar. Que a tabela salarial seguirá desfigurada.
A encenação
Mesmo assim, a direção da APP comemora. Diz que a luta continua. Mas que luta é essa que se recusa a organizar greve, ignora os comandos de mobilização, não chama a base para decidir nada e se especializou em transformar derrota em espetáculo?
É a “imprensa oficial” do governo, uma vez mais, antecipando-se ao próprio governo, na tentativa de subverter essa estrondosa derrota em vitória. E mais: uma “vitória” garantida pelos aguerridos e abnegados diretores do sindicato, que passaram dois dias sentados nas confortáveis cadeiras do plenário ou perambulando pelos corredores da Alep. Enquanto isso, milhares de trabalhadores e trabalhadoras da educação, sem poder exercer qualquer pressão no parlamento, trabalharam normalmente – não por vontade própria, mas pela total e completa responsabilidade de uma diretoria sindical pautada pelo governo. Aqueles e aquelas que permaneceram trabalhando serão chamados de espectadores que se abstiveram de lutar, quando, na verdade, os únicos espectadores estavam na Alep, performando uma resistência que nunca existiu.
Em direção ao futuro
É uma luta performática. É a encenação do enfrentamento com roteiro combinado. Enquanto a base adoece e morre, a cúpula sindical bate palma para um reajuste que desmoraliza a carreira e rebaixa ainda mais a dignidade da profissão.
Nós, do Movimento Vinte e Nove de Abril – M29, dizemos: não dá mais!
Essa política de contenção e conciliação interessa apenas ao governo. A APP-Sindicato, sob essa direção, não organiza a revolta – administra a frustração. Não queremos mais migalhas. Queremos um sindicato que enfrente, que convoque, que mobilize, que não aceite a morte como rotina e o rebaixamento como “possível”. Porque o possível dos de cima é sempre o inaceitável para quem está embaixo.
A carreira está viva, dizem. Mas a cada “vitória” dessas, ela respira por aparelhos. E são eles que desligam o oxigênio.
Junte-se ao M29 – vamos organizar a resistência e começar a lutar por conquistas e ampliação de nossos direitos!
Abaixo ao peleguismo, à capitulação, ao entreguismo e submissão de nossas pautas e lutas aos interesses partidários daqueles e daquelas que há décadas ocupam as cadeiras da diretoria da APP-Sindicato!
Viva os trabalhadores e Trabalhadoras da Educação
Viva o M29 – em memória, em luta, em solidariedade, pelo futuro