No último sábado 14 de junho, o secretário de Educação do Estado do Pará, Rossieli Soares, anunciou sua saída do cargo. Ex-ministro da Educação entre abril de 2018 e janeiro de 2019, durante o governo Michel Temer, Rossieli é uma figura-chave na implementação de reformas de viés privatista, como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e a Reforma do Ensino Médio (Lei 13.415/2017). No Pará, tentava impor um modelo excludente e tecnocrático de educação, que retirava o direito ao ensino presencial de comunidades indígenas, quilombolas e rurais. Sua queda, longe de ser um gesto isolado, foi resultado direto de uma intensa mobilização popular que uniu docentes, estudantes e povos originários em torno da defesa da escola pública presencial, enraizada nos territórios e nos saberes comunitários.
A saída de Rossieli Soares da Secretaria de Educação do Pará não pode ser tratada como um simples ato administrativo. Trata-se de uma vitória parcial, fruto da resistência organizada de comunidades indígenas, quilombolas, do movimento estudantil e de uma greve combativa dos trabalhadores e trabalhadoras em educação. A tentativa de Rossieli, já conhecido por sua atuação privatista à frente do MEC e de secretarias em outros estados (AM; SP), de impor ensino remoto via TV e internet às populações do interior, por meio da Lei 10.820/2024, encontrou firme oposição. Por semanas, centenas de indígenas ocuparam a sede da Seduc em Belém, denunciando o apagamento de seus direitos e a negação de uma escola viva, presencial e enraizada nos territórios.
Por que Roni Miranda ainda ocupa o cargo de secretário de Educação mesmo após duas professoras serem mortas em razão da sua gestão?
Esse processo no Pará revela que, diante de um projeto de desmonte da educação pública, só a luta organizada e com base social real pode impor recuos aos governos. É o oposto do que ocorre no Paraná.
Aqui, enquanto duas professoras morrem dentro da escola em menos de uma semana e mais de 8 mil educadores se afastam transtornos mentais e comportamentais todos os anos – ao menos desde 2022 –, a gestão estadual segue blindada por um modelo de sindicalismo vacilante e governista. A Secretaria de Educação do Paraná (Seed), operando sob lógica empresarial e orientada por metas e plataformas digitais, converteu escolas em linhas de produção. Sob a falácia de “modernização”, docentes foram transformados em operadores de sistema, submetidos a assédio moral institucionalizado, metas inatingíveis e a vigilância contínua.
O silêncio imobilista da diretoria da APP-Sindicado diante dessas mortes – inflado pelo governismo e pela partidarização da entidade –, e sua recusa sistemática em convocar greve diante da barbárie em curso, escancaram a falência de uma concepção sindical ocupada em administrar perdas, defender a qualquer custo os governos, mesmo aqueles que retiram dinheiro da educação e atacam a classe trabalhadora e, sobretudo, perpetuarem-se na entidade.
Enquanto isso, a gestão Ratinho Jr. faz avançar seus planos privatistas com o beneplácito de quem deveria combatê-los. Não fosse a audiência pública articulada entre o M29 e o mandato do dep. Goura, a categoria teria passado o primeiro semestre invisibilizada por uma burocracia que trama dia após dia formas de se perpetuar no aparato sindical. Agem como aqueles professores e professoras que trocam a sala de aula pela possibilidade de serem, agora, o chicote.
Ao invés de insuflarem o legitimo sentimento de revolta despertado na categoria após os trágicos assassinatos de duas professoras da sua base, aqueles e aquelas que há décadas se revezam na diretoria do sindicato agiram como cães de guarda do governo. Não mobilizaram a categoria para a assembleia que discutiria greve, não visitaram escolas, não confeccionaram material algum politizando os debates que teremos pela frente e, fundamentalmente, agiram para evitar a greve da categoria ou qualquer outra mobilização capaz de dar um aos infindáveis ataques impetrados por esse governo.
Nem mesmo o anúncio de um possível embate entre o governador do Paraná e o atual presidente – arena usual dos seus interesses –, fê-los demoverem-se da sua condição de expectadores. Deitados em berço esplêndido, continuam inertes, agarrados aos seus cargos e alianças, convocando atos para o sábado à tarde ou da noite para o dia. Quem poderá atendê-los, pouco importa – o essencial é o simulacro, a performatividade, em que a diretoria apareça numa foto bradando: “Eu tô na luta”.
Ao invés de deliberar por “estado de greve”, o qual lhe permitira convocar a categoria de um dia para o outro, ou paralisação, possibilitando que os trabalhadores e trabalhadoras da rede estadual de educação, além de protagonizarem suas lutas, exercessem pressão sobre os deputados, ou, mas acertadamente, construir a greve, como o M29 vinha indicando desde a assembleia de fevereiro, reforçaram a velha tática de mendigar pelos corredores da Alep.
Trabalhador e trabalhadora da educação, fazemos um chamado urgente!
Junte-se ao Movimento 29 de Abril (M29) como alternativa real de reorganização da luta no Paraná. Inspirar-se na resistência das comunidades do Pará é também reavivar a memória das nossas próprias batalhas — como as ocupações de 2016, o Abril de 2015 e as greves combativas que marcaram nossa história.
É hora de reconstruir um movimento enraizado na base, que enfrente o adoecimento, a plataformização e a precarização com coragem, organização e ação direta.
Chega de silêncios e encenações. É tempo de luta real. É tempo de M29.
Rossieli caiu no Pará. Que a queda dele sirva de lição: governos que violam direitos podem ser derrotados. Que a luta dos povos originários nos inspire. E que os que hoje adoecem em silêncio reencontrem, juntos, a força para transformar o luto em luta.
Movimento 29 de Abril – em memória, em luta, em solidariedade, pelo futuro