Amanhã recomeça o ano letivo nas escolas públicas do Paraná. As incertezas e inseguranças são tantas que muitos professores já vem relatando quadros de ansiedade, pesadelos e perda do sono.
Conscientes da natureza política das condições desumanas a que educadores e educadoras têm sido submetidos nos últimos anos, temos trabalhado com afinco na organização do Movimento Vinte e Nove de Abril – M29, cujo objetivo é reorganizar a luta coletiva em defesa da escola pública e das condições existenciais dos profissionais da educação, pela base e democraticamente.
É muito importante, obviamente, que todos os educadores do estado se somem a nós nesta luta. Entretanto, enquanto nos reorganizamos enquanto categoria, precisamos agir de forma prática em nossos espaços de trabalho. Neste sentido, é preciso relembrar alguns princípios fundamentais inerentes às práticas de ensino:
- A prática pedagógica é, invariavelmente, política. Por isso, precisamos tomar posições claras. Afinal, ensinamos o quê, para quê e para quem? Ensinamos a favor de quem e contra quem?
- Nossos alunos são filhos de trabalhadores, tão ou mais explorados do que nós, fortemente manipulados pelos aparelhos ideológicos da classe dominante. Podemos desenvolver práticas de ensino para fortalecer os processos de alienação e de domesticação ou para promover a consciência crítica e a autonomia;
- Embora o atual governo seja extremamente autoritário e detenha um sofisticado sistema de controle, de vigilância e de punição, ainda é possível encontrar espaços para exercício de uma autonomia relativa nas interações concretas que realizamos com nossos estudantes. Precisamos de discernimento para ocupar esses espaços;
- Precisamos, educadores e educandos, nos organizar em coletivos nas unidades escolares, promovendo relações de solidariedade de classe, nos protegendo e avançando na construção de práticas emancipatórias;
- Precisamos, com altivez, questionar ordens arbitrárias que nos são passadas através de chefias imediatas. Não podemos aceitar silenciosamente a imposição de uso de tecnologias estranhas a nosso trabalho, a exigência de cumprimento de metas absurdas, a jornada de trabalho além daquela pela qual somos pagos e, ainda, o trabalho em ambientes hostis e insalubres;
- Não podemos permitir que companheiros de trabalho sejam vítimas de pressão, de assédio moral e de outras formas de violência, veladas ou explícitas, degradantes da nossa condição profissional;
- Certamente, a situação dos profissionais da educação no estado do Paraná beira à crueldade, mas ainda não chegamos ao fundo do poço. O projeto deste governo é diabólico e, sem luta coletiva e resistência efetiva, iremos, nos próximos anos, fatalmente, perder os poucos direitos que ainda nos restam;
- A luta jurídica e a disputa parlamentar não irão resolver nossos problemas. Ninguém se salvará sozinho. Só a luta muda a vida, mas só conseguiremos forças se estivermos juntos. Temos que nos dar as mãos e nos encostar uns nos ombros dos outros em nossos locais de trabalho;
- Para vencer a barbárie, precisamos de ciência, de arte e de filosofia, não esquecendo que NADA É IMPOSSÍVEL DE MUDAR:
Desconfiai do mais trivial,
na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito
como coisa natural.
Pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural.
Nada deve parecer impossível de mudar.”
Bertold Brecht