Nota contra a crueldade institucional e a violência digital do Governo Ratinho Jr
O Movimento 29 de Abril (M29) vem a público repudiar com veemência a política desumana imposta pelo Governo Ratinho Jr. e pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED), que tem submetido trabalhadores e trabalhadoras da rede pública estadual a situações de extrema precarização, sofrimento e adoecimento.

Chegaram até nós imagens e relatos estarrecedores de educadores participando das atividades do curso Formadores em Ação diretamente de leitos hospitalares, ou em condições de cuidado familiar urgente. Tais cursos se constituíram como uma formação obrigatória vinculada à progressão na carreira e provável política de bonificação por desempenho. Esses casos não são pontuais. Revelam um modelo de gestão que naturaliza a dor dos trabalhadores da educação e transforma o sofrimento em critério de conduta profissional.
A crueldade se agrava ao se exigir frequência de 100% nas formações, mesmo com apresentação de atestados médicos, sob pena de prejuízos funcionais. Trata-se de uma política deliberada de controle, que transforma plataformas digitais de aprendizagem em instrumentos de vigilância, submissão e autocoerção.

A vinculação direta entre a participação nos cursos oferecidos pela SEED —sempre voltados para o uso de tecnologias digitais e métodos mercantilizados de ensino — e a progressão na carreira ou a bonificação salarial, submete os servidores da educação a um verdadeiro regime de chantagem institucional, no qual só avança quem se submete, mesmo que à custa da saúde física, mental e emocional.
Essa realidade expõe o caráter antipedagógico, autoritário e adoecedor de um governo que despreza o diálogo com a categoria, ignora a realidade das escolas e insiste em impor um modelo de educação plataformizado, precarizado e desumanizado a serviço dos interesses privatistas.
O M29 reitera sua luta:
• pela imediata revogação da obrigatoriedade de frequência integral em cursos de formação continuada;
• pelo fim da vinculação entre bonificação e adesão a formações compulsórias;
• pelo reconhecimento e respeito às licenças médicas e demais condições pessoais dos(as) trabalhadores(as);
• por uma política de formação continuada construída com e para os educadores, não contra eles.
Reafirmamos que não há educação de qualidade sem condições dignas de trabalho e que o compromisso com a aprendizagem dos(as) estudantes passa, necessariamente, pelo respeito à saúde e à dignidade dos(as) educadores(as).
Situações como essas escancaram a degradação humana dos tempos atuais, em que o valor da vida é subordinado à lógica do desempenho, do lucro e da produtividade a qualquer custo.
Educação não combina com opressão.
Formação não combina com adoecimento.
M29 — em defesa da escola pública, da dignidade docente e da memória da luta.